Patrícia Galvão, como é mais conhecida, nasceu em 9 de junho de 1910, em São João da Boa Vista. Era a terceira filha de Adécia e Thier Galvão França, trazendo nas veias o sangue dos imigrantes alemães e dos quatrocentões de São Paulo. Seus talentos começaram a aflorar cedo, praticamente aos doze anos, em 1922, época do grande marco cultural brasileiro, a Semana da Arte Moderna do movimento modernista, que protestava contra o domínio cultural e artístico estrangeiro, principalmente europeu que se alastrava no Brasil.

Admiradora do movimento, Patrícia começou a escrever, e com apenas 15 anos foi trabalhar no jornal "Brás Jornal", de São Paulo, com o pseudônimo de "Pathy". Mas foi seu amigo e poeta Raul Bopp, pensando que seu nome fosse Patrícia Goulart, acabou inventando o apelido Pagu, nome que marcou para sempre.

Nesta mesma época, já conhecida no meio artístico, Pagu é apresentada ao grupo de modernistas comandado por Oswald Andrade, no qual faziam parte Mário de Andrade, Anita Malfatti, Benjamim Peret, Tarsila do Amaral (mulher de Oswald) entre outros.

 

Pagu conhece Oswald de Andrade
Pagu conhece Oswald de Andrade

Desde que viu Pagu, Oswald não conseguiu tirá-la de seus pensamentos. Acabou apaixonado por essa jovem de 18 anos, corajosa, cheia de idéias vanguardistas e de uma beleza intrigante. Foi correspondido e começou a achá-la o "mais autêntico símbolo feminino da ousadia e inconformismo artístico e cultural de seu tempo".

 

Mas o romance para Pagu foi inicialmente um tanto complicado, já que ela tinha grande admiração e amizade por Tarsila, passando a dividir sua atenção entre os dois. E foi nesse mesmo período que começou a escrever para a Revista Antropofágica (revista editada pelos modernistas contra todo domínio cultural estrangeiro), e a fazer grandes obras como "Álbum de Pagu", dedicado à Tarsila e o "Diário a quatro mãos", com Oswald de Andrade.

No início de 1930, já separado de Tarsila, Oswald e Pagu se casam, numa cerimônia um pouco esquisita. O acontecimento foi simbólico, realizado num cemitério, o da Consolação, em São Paulo, na Rua 17, nº 17. Só mais tarde, eles se retrataram na igreja.

Já em 31, Pagu e seu marido se alistam na militância do Partido Comunista e nesta fase editam o jornal esquerdista "O homem do povo". No periódico, ela assinava a coluna feminista "A mulher do povo", com ilustrações, cartuns e até histórias em quadrinhos, revelando e ao mesmo tempo instruindo a mulher brasileira. Pagu queria através de seu trabalho, impulsionar a mulher à luta, ao trabalho, ao mundo... E pensando nele e nos mais necessitados que lançou o romance "Parque Industrial", obra que reflete sua solidariedade com o proletariado e ao comunismo como recurso salvador.

Ainda em 31, como militante política, Pagu participa do comício dos estivadores em Santos e acaba sendo presa. Quando liberada, o PC, o partido que ela tanto lutava e amava, a obriga declarar-se "uma agitadora individual, sensacionalista e inexperiente".

Pagu, sempre foi uma mulher à frente de seu tempo. Casada com Oswald de Andrade e com um filho, ela jamais se limitou à rotina da vida doméstica e muito mais às incoerências partidárias do Partido Comunista. Sem desistir da luta e de seus ideais, começou a viajar pelo mundo como correspondente dos jornais "Correio da Manhã", "Diário de Notícias" e "A Noite".

Na sua "volta ao mundo", Pagu foi ao Japão, Estados Unidos, Polônia, China, França e Rússia. E suas viagens renderam frutos, pois acabou sendo a primeira repórter latino-americana a presenciar a coroação do Imperador de Manchúria (China). Através deste evento que ela obteve as primeiras sementes de soja para serem plantadas no Brasil.

Em 34, após sua ida à Rússia, Pagu começou a ficar decepcionada com o comunismo e constatou que os ideais não batiam com a realidade daquele país. Sua análise de Moscou foi: "Gente pobre nas ruas e luxo para os burocratas". Logo em seguida vai a Paris, estuda na universidade de Soborne, mas acaba presa como comunista, sendo obrigada a voltar para o Brasil.

 

Após o cárcere de 1935 a 1940
Foto de quando Pagu é solta após o cárcere de 1935 a 1940, quando foi presa e torturada pelo Estado Novo

Seu regresso não foi nada feliz, seu casamento com Oswald não estava nada bem e o sistema de governo no país deixava muito a desejar: regia o Estado Novo de Getúlio Vargas. E neste período Pagu foi novamente presa. Sofre terríveis torturas (observe a foto) nos quatro anos e meio que ficou em cárcere. Quando foi solta, estava impressionantemente magra, com o seu físico e emocional em pedaços. Apesar de tudo, Pagu não se entregou, e lúcida, decide se divorciar de vez do Partido Comunista, percebendo que a corrupção política não tem partido.

 

A nova fase foi dedicada ao Jornalismo, a cultura e a família. Separada de Oswald, Pagu casa com o também jornalista Geraldo Ferraz, de quem tem seu segundo filho. Decide morar em Santos.

 

Pagu, Geraldo Ferraz e Geraldo Galvão Ferraz
Pagu e seu 2º marido e 2º filho, Geraldo Ferraz e Geraldo Galvão Ferraz

Nos anos 50, ela ainda faz uma última tentativa de resgatar sua militância política, só que desta vez pelo Partido Socialista Brasileiro. Concorreu à Assembléia Legislativa, mas seu discurso acabou não agradando. Nele ela revelava as condições degradantes que foi submetida, que seus nervos e inquietações acabaram transformando-a "numa rocha vincada de golpes e amarguras, mas irredutível". Não foi eleita.

 


 

 

Quando Pagu vai estudar em Soborne/Paris
Quando Pagu vai estudar em Soborne/Paris

Também nesta época, Pagu começou a colaborar com várias revistas de São Paulo e do Rio, e em 55 torna-se crítica de teatro literatura e televisão do jornal " A Tribuna" de Santos, assumindo essa função, maravilhosamente por sinal, até morrer. Sua importância cultural na cidade foi tão grande que foi fundadora da Associação dos Jornalistas Profissionais de Santos, e a primeira presidente da União de Teatro Amador de Santos. Investindo na cidade, ela trouxe mais de 1200 participantes para o 2º Festival de Teatro Amador e traduziu para o teatro a peça de Tonesco, "A cantora careca". Dirigiu e também traduziu a peça de Arrabal "Fango e Lis" (59) com um grupo amador (essa peça teve estréia mundial em Santos, sendo vista até em Paris), ficando mais de dez anos em cartaz.

 

Nos últimos anos de vida, apesar de trabalhar incansavelmente pela cultura, Pagu começa a beber de uma forma compulsiva. Suas roupas ficam surradas, escuras e fora de moda. Seus cabelos viviam despenteados, seu olhar era angustiado, cansado, vago...

"Nada, nada, nada. Nada mais do que nada. Abrir meu abraço aos amigos de sempre. Poetas compareceram, alguns escritores, gente de teatro, birutas no aeroporto. E nada," foi seu último texto, datado em 23 de setembro de 62, antes de viajar para Paris. Precisava ser operada, o câncer a perseguia. Sem sucesso, Pagu volta para o Brasil. Três meses depois, seu coração para; ele não mora mais aqui, seguiu outra trilha onde possa encontrar seres que a entendam e a ajudem encontrar o sentido da LIBERDADE. E para quem a admirar, restou apenas a mensagem que resume seu destino:

"O escritor da aventura não teme a aprovação ou a renovação dos leitores. É-lhe indiferente que haja ou não, da parte dos críticos, uma compreensão suficiente. O que lhe importa é abrir novos caminhos à arte, é enriquecer a literatura com gérmens que venham a fecundar a literatura dos próximos cem anos".

 

Pagu