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12 de dezembro de 1962:
Morre Pagu, a jornalista rebelde 11/12/2003 - Da Redação Em plena efervescência da Era Jango,
com um verão que já prenunciava as águas de março, que dois anos depois
inundariam politicamente o país, a UNE e seus CPCs, a bossa nova e o cinema
novo instigavam a vida nacional. No dia 12, vítima de um câncer, morria
Patrícia Rehder Galvão, ou simplesmente Pagu. Escritora, panfletária,
política, militante e sobretudo jornalista, Pagu retrata a saga de um tipo
de mulheres inteligentes e audaciosas que marcaram presença e influenciaram
os rumos do século XX. Fonte: ABI - Associação Brasileira
de Imprensa |
Arte e Cultura | ||||||||||||||||
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Documentos originais e fotos da escritora e militante comunista Patrícia Galvão, a Pagu (1910-1962), e de seu último companheiro, o jornalista e crítico Geraldo Ferraz, foram encontrados no lixo, no bairro do Butantã, em São Paulo, pela catadora de papel Selma Morgana Sarti. O material foi doado por Selma para o Arquivo Edgard Leuenroth, da Universidade de Campinas (Unicamp), e vai ajudar a instituição a criar a Coleção Patrícia Galvão. Segundo o Jornal da Unicamp, Selma reconheceu a importância do material na hora de separá-lo para a reciclagem. Ela procurou uma amiga, aluna do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, para saber o que fazer com os documentos. "A ignorância deixa a gente passar um monte de coisas importantes. Você já imaginou quantos catadores existem e quantas coisas foram destruídas?", disse. O QUE FOI ENCONTRADO |
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Redação Terra |
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edição 88, março-abril 2003 |
Que é que você pensa, Pagu, da antropofagia? – Eu não penso: eu gosto. – Tem algum livro a publicar? – Tenho, a não publicar: os 60 Poemas Censurados, que eu dediquei ao doutor Fenolino Amado, diretor da censura cinematográfica. E o Álbum de Pagu – Vida, Paixão e Morte, em mãos de Tarsila, que é quem toma conta dele. As ilustrações dos poemas são também feitas por mim. – Quais são suas admirações? – Tarsila, Padre Cícero, Lampião e Oswald. Com Tarsila fico romântica. Dou por ela a última gota do meu sangue. Como artista só admiro a superioridade dela. Informações: Pagu é a criatura mais bonita do mundo – depois de Tarsila, diz ela. Olhos verdes. Cabelos castanhos. 18 anos. E uma voz que só mesmo a gente ouvindo. Assim escrevia o jornalista Clóvis Gusmão na revista Para Todos... em 3 de agosto de 1929. Ele falava da jovem que mais tarde roubaria o pai do Modernismo, Oswald de Andrade, de Tarsila do Amaral, criticou seu tempo, lutou pela revolução e tornou-se um dos ícones da luta brasileira pela valorização da mulher. Patrícia Rehder Galvão nasceu em 14 de junho de 1910. A “musa-mártir da antropofagia” revelou-se aos 18 anos de idade ao publicar um dos Desenhos de Pagu na Revista de Antropofagia (2ª dentição), São Paulo Com Oswald de Andrade, escreveu o diário Romance da Época Anarquista ou Livro das Horas de Pagu que São Minhas, no qual se podem ler passagens como a do casamento, em 1930: “Nesta data contrataram casamento a jovem amorosa Patrícia Galvão e o crápula forte Oswald de Andrade. Foi diante do túmulo do Cemitério da Consolação, à Rua 17, nº 17, que assumiram o heróico compromisso. (...) Depois se retrataram diante de uma igreja. Cumpriu-se o milagre. Agora, sim, o mundo pode desabar”. Um mês depois do nascimento da filha Rudá de Andrade, Pagu estava nas ruas participando das agitações da Revolução de 1930, e punha abaixo a célebre Cadeia do Cambuci. Em 1931 ingressou no Partido Comunista, ao lado de Oswald. Com ele iniciou o pasquim Homem do Povo, que teve vida curta devido aos constantes choques com os estudantes do Largo São Francisco e às duras críticas à sociedade pequeno-burguesa da época. Na coluna feminista A Mulher do Povo, Pagu dirigia palavras ásperas às damas tradicionais da sociedade paulistana. E observações nada generosas ao próprio feminismo: “Estas feministas de elite que negam o voto aos operários e trabalhadores sem instrução...” Participou dos movimentos dos operários da construção civil em Santos e de uma greve de estivadores. No meio da confusão, recolheu o corpo agonizante de um estivador, que morreu em seus braços, enfrentou a cavalaria e foi presa pela primeira vez como agitadora. Foi forçada pelos camaradas a assinar documento isentando o partido e confessando-se “agitadora individual, sensacionalista e inexperiente”. Mas Pagu não desistia nunca. Escreveu, aos 22 anos, o primeiro romance proletário brasileiro, Parque Industrial, publicado em 1933 e assinado com o pseudônimo Mara Lobo. “Impróprio para menores e senhoritas, como todo livro que tem idéias”, classificava o escritor Ari Pavão, seu contemporâneo. Patrícia viajou à China, Alemanha e Rússia. Conheceu o comunismo pessoalmente e não teve receio de não gostar: “O ideal ruiu diante da infância miserável das sarjetas, os pés descalços e os olhos agudos de fome. Em Moscou, um hotel de luxo para os altos burocratas, os turistas do comunismo. Na rua as crianças mortas de fome”. Foi para a França, encontrou poetas, freqüentou a universidade popular, viveu como operária e ingressou no PC com identificação falsa, até ser presa como militante estrangeira. De volta ao Brasil, em 1935, separou-se de Oswald e foi novamente presa. Quando saiu, após cinco anos, Pagu era socialista. Uniu-se ao jornalista Geraldo Ferraz, seu companheiro pelo resto da vida e com quem teria o filho Geraldo Galvão Ferraz, também jornalista. Foram para o Rio. Agora era Ariel, PT, Solange Sohl, não mais Pagu. Em 1949, tentou o suicídio. Em 1950, concorreu a uma cadeira na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e publicou o folheto Verdade e Liberdade: “Outros se mataram. Outros foram mortos. Também passei por essa prova. Também tentaram me esganar em boas condições. Agora, saio de um túnel. Tenho várias cicatrizes, mas estou viva”. Ainda jovem, bem antes de depois enfrentar o câncer com cirurgia e tentativa de suicídio, Pagú havia brincado com a morte ao escrever: “Quando eu morrer não quero que chorem a minha morte/ Deixarei meu corpo pra vocês...” Ao partir, em 12 de dezembro de 1962, deixou muito mais do que isso. Fonte: JOrnal dos Bancários de São Paulo |
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